12 de março de 2024

Das Loucuras (Pelo princípio mais lógico)


 Das Loucuras (Pelo princípio mais lógico)


O cheio e o vazio dentro do pensamento

O bem moldando os desvios, à procura.

Vai e vem de frente-frias, temperatura boa para o plantio...

No tudo a cabeça é seu guia, mas um GPS ajuda.


A fiel escudeira – sua consciência – dava os pitacos e pitocos;

Querendo abraçar e beijar como um cio.

Marmelada com quiche de queijo, déjà vu de já veio,

Manejo da arma, maneiro do tempo, mineiro e seu ouro.


Maré propícia a novos ensinamentos,

Fogueiras ardem, mertiolate arde, luzes cintilam.

Sem endereço fixo fixa-se no voo continuo,

A prece ao que parece, seja um só ouvido...


Daqui a pouco já tem um ano de sua velha novidade,

Indo de cidade a cidade com a idade avançando...

Segue passando pano para sua ida de verdade,

Nas trincheiras trincadas dos dentes trincados, sem abandono.


As filosofias das ruas e a de Zizek, ensinam...

Pestes extintas, a onda ‘segurada’, tintas fartas, e mais tudo que preste.

As psicologias do “vivido” e a junguiana, anima e animam.


Detalhes são minudências dentro da sobrevivência,

E tudo estará nas folhas que surgirão e floresçam.

De modo evidente, doente, sadio, sútil;

De modo verdadeiro, falso, salso, doce, brocha, viril.


André Anlub®



24 de fevereiro de 2024

Excelente final de semana




Tempo de ser Ornitorrinco


Às vezes queremos ser diferentes

Raro, assim como a bondade gratuita.

Uma espécie de elo perdido

Com o genoma por demais estranho.


Que tal ser ave, réptil e mamífero?

Que tal ser feio e bonito?

É a ovelha negra do rebanho

É o começo que renasce no finito.


Quer ser um ser atípico...

E um querer com muito afinco

Alcunha de ornitorrinco

O novo estranho nobre no ninho.


Se for moda ser quarentão com filhos

Com vinte e cinco ele fez vasectomia

Se estiver em voga não sujar a pele

Do calcanhar ao pescoço ele se pinta.


No fundo quer ser somente ele

Mas quase tudo é sem querer

Vive tranquilo com a apatia alheia

É natural, autêntico.

Verdadeiro ser.


André Anlub

16 de fevereiro de 2024

Texto primoroso de André Gabeh

Texto primoroso de André Gabeh


"CARTA ABERTA (muitos risos debochados) para Cláudia Leite


Cláudia Leite, acredito que você esteja cercada de pessoas que a todo momento te falam: Diva, lacrou, maravilhosa, hitou... Mas eu preciso te contar um negócio muito sério, coisa pontual: você é cantora de um gênero chamado AXÉ MUSIC.  Não é CANÇÃO NOVA MUSIC, NÃO É ZAQUEU MUSIC, NÃO É LOUVA MUSIC... É AXÉ MUSIC. Sabe o que é Axé, fia? AXÉ É VIDA, FORÇA, É PODER. AXÉ é o AMÉM do povo preto, É também o nosso DEUS TE ABENÇOE, o nosso QUE SUA VIDA SEJA PLENA E ABUNDANTE.

Respeite isso. Você comprou suas casas, hidratou seus cabelos, pagou a escola de seus filhos, fez capas de discos com blackface, lançou sucessos questionáveis com letras lactobacílicas e próbioticas... Tudo isso graças a sua carreira construída sobre os pilares de um estilo musical chamado AXÉ MUSIC. Tá entendendo? Você faz sucesso se fingindo de baiana, se fingindo de cantora, se fingindo de afro-loira GRAÇAS AO AXÉ MUSIC. Organizou isso na sua mente? Então vigia, varoa. Vigia muito atentamente e pare de fazer a pêssega ungida.

Você e seus fãs que apoiam a sua palhaçada de trocar YEMANJÁ por SÓ LOUVO MEU REI YESHUÁ precisam tomar vergonha em suas caras lactósicas, precisam se dar o respeito. Ressignifique a sua carreira genérica e não menospreze uma cultura totalmente eclipsada que te, infelizmente, consagrou. Se componha, obreira.

Cante Gospel. Cante louvores. Sabemos que pra isso você terá que estudar muito, ajustar respiração, apoio, laringe, filtros e fontes sonoras, porque a música "gospel" brasileira é conhecida por cantores de muitos recursos vocais, coisa que a gente sabe que você precisa desenvolver. Faça isso, você consegue. Estude, treine. És uma mulher linda e ficará maravilhosa com tailleurs e terninhos de tecido brilhante cantando versões de ENTRA NA MINHA CASA, ENTRA NA MINHA VIDA, PORQUE ELE VIVE E GRANDIOSO ÉS TU. Força guerreira. Tem que ter gogó. Tens Gogó? Então vá.

MAS NÃO FAZ GRAÇA COM O NOME DE YEMANJÁ. Não substitua o nome santo de Yemanjá em uma música nascida das entranhas dos diásporicos negros que são apagados por você e outras cantoras baianas brancas que até hoje vivem do abraço que o Racismo Estrutural proporciona e que coloca cantoras caucasianas como expoentes da música preta enquanto MARGARETH MENEZES é quase um adjunto adverbial de ausência no panteão das Afro Brancas baianas. A gente entende que esse privilégio é irresistível e poderoso, porque afinal estamos falando do estilo musical que ESCOLHEU A NOVA LOURA DO TCHAN e invisíbilzou Débora, a dançarina preta também do Tchan enquanto ainda era GERA SAMBA. Eu te entendo.

Amaria poder ter essas oportunidades enquanto homem negro, mas vivo em um mundo onde as pessoas acham normal que 97% ( isso é  um cálculo real) das pessoas que julgam o carnaval carioca sejam brancas, ou seja: sei exatamente que esse mundo não é pra mim. Esse mundo é pra você, feito por pessoas como você, que se irmanam a você e fazem com que a gente que reclama pareça um bando de ressentidos, quando na verdade já abrimos mão desse protagonismo e estamos procurando outras histórias e caminhos.

Mas eu preciso me manifestar pela honra de meus ancestrais. Preciso me manifestar pela decência de ser um homem preto e macumbeiro que vive de falar sobre minha ancestralidade, porque além de todo cinismo fundamentalista, Dona Cláudia Leite tem que entender que quando ela muda uma letra, ela desrespeita a própria arte, desrespeita o compositor e sua inspiração. Isso é arrogante e egocêntrico. Imagina se um cantor de religião afro brasileira troca os versos de AVE MARIA NO MORRO para flexionar a poesia de maneira favorável a seu culto? "E o morro inteiro no fim do dia, reza uma prece, MARIA PADILHA..." . Pensa no escândalo. Pensou. Pensou nada. E não me venham com ELA CANTA O QUE ELA QUISER DO JEITO QUE ELA QUISER. Ela só pode ter essa autonomia sobre aquilo que compôs. De resto é só fundamentalismo e intolerância religiosa.

Vou falar uma coisa pra você Cláudia Leite. Quer dizer, vou falar MAIS uma coisa pra você e que serve pra BABY DO BRASIL (outra equivocada e irresponsável pra  quem resolveram passar pano por causa de seus anos de carreira e fanatismo) e pra todos os evangélicos que odeiam Carnaval: SAIAM DO CARNAVAL. CARNAVAL É A FESTA DA CARNE. Eu e nenhum simpatizante de Axé entramos em igrejas cantando pra Oxalá. Façam o mesmo. Se não há convivência respeitosa e pacífica que cada um fique no seu quadrado. O que Cláudia Leite está fazendo cantando algo que não a representa e fere seus princípios? É pra pagar IPTU?  Pra manter um status rançoso? PAREM. Cada coisa em seu lugar e respeito sempre.

Que desapareça do mundo secular e ressurja em glória longe dos ouvidos mundanos.


Liquitiqui é meu egg left.

Brazil, I'm devastated."


#ArtistaSuburbanoReflexivo

4 de fevereiro de 2024

Ferve de fevereiro


Ferve de fevereiro


Aquele céu azul turquesa em desvario me olhou sem fim, 

Aquele pérfido desvio que abrolhou em mim;

Tal tiro de festim que acerta minhas árduas cobiças,

Meus veios, meus velhos/novos embustes e premissas.


Sou andarilho com zelo de outrora malandro sagaz,

Sou saga, lenda, mito ou talvez nem e nada disso;

Abdico da necessidade de expor o que fui ou sou; já expondo;

Paparico a dona rica do amigo, bom, antigo, verde e grená alambique.


Dito-lhe ao pé do ouvido:

“verde-bílis com preto, verde-bílis com branco, 

verde-bílis com verde-nilo, seu primo distante.”

- Li isso em algum lugar; 

Acho que poderíamos repintar e avivar os quatro cantos.


O céu agora nublado e um assanhado sanhaço cantando,

Como um tablado branco e você dançando seus passos;

Foram descentes decentes, goela abaixo, quatro copos “quentes”:

(quatro pingas, quatro santos, quatro amigos, quarenta e quatro anos);


Peça imaginária, som e luminária, alma incendiária e (pra rimar)...

Ela – metade marcante da minha faixa etária.


André Anlub



19 de janeiro de 2024

Mesmo assim

 


Mesmo assim


Agora mesmo a alegria passou por uma rua,

Ela estava nua, estava fula, estava atormentada e vadia.

Olhou em todas as portas, portões, porteiras;

Olhou por cima dos muros e em murmúrios

Resmungou algumas asneiras... eram loucuras, coisas cruas...


Ela abriu janelas e meteu a mão nos cestos de frutas

E nas caixas dos correios...

(pegou algumas contas, cartas de amor, maças, peras).


A alegria soprou uma brisa, apagou algumas velas,

Espalhou a fumaça dos charutos e incêndios;

Atrapalhou as preces, os cantos nos terreiros;

Atrapalhou enterros e desacelerou as pressas.


Agora mesmo senti seu cheiro de mato lavado,

Senti seu ar gélido, fresco, encanado;

E como um refresco me afagou por dentro...

Acalentando meu mundo e meus imundos pulmões.


Vi alegria em multidões, senti suas fragrâncias...

Mas novamente vi a dor;

Senti o odor do suor dilapidado

Pelo horror de intolerância.


Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”,

Concomitante que media o tamanho do estrago, 

Tragada e hipnotizada pela hipocrisia

Da constante desarmonia dos cínicos embargos

Nos livres-arbítrios de nossas/fossas vidas.

Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”.


André Anlub

(19/1/15)

14 de dezembro de 2023

Vivências da madrugada



Praça Edmundo Bittencourt (Bairro Peixoto) Copacabana! Saudade dessa mangueira, muitas histórias pra contar! 


Vivências da madrugada 

                        Romero se deu conta da existência do preconceito de uma maneira curiosa, pois se deparou com ele pelo lado de quem está praticamente resguardado; na verdade mal sabia ele que o racismo sempre fez parte do seu meio, dos seus amigos de escola, da cidade, do bairro, do prédio onde vivia e, até mesmo, dos olhares críticos de seus familiares... Ele até poderia falar que o racismo era sutil, mas não poderia ser tão atrevido, debochado e perspicaz assim, por se tratar de um branco, heterossexual, de classe média, e não estar ciente da verdade dentro do corriqueiro dos seus amigos afrodescendentes. Romero estava com dois grandes amigos, o Grilo (amigo de longas datas) e Isaac (cinco anos que o conhecia), um viciado em quadrinhos de ficção científica, surfista, boa praça, comunicativo e extrovertido, morador de um apartamento mínimo – em um prédio do bairro –, considerado uma “cabeça de porco”. 

Lá pelas altas horas, Romero e os amigos já estavam há tempos bebendo cerveja e comendo fritas em uma birosca antiga cuja o dono já fora seu sogro. Estavam no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, mais precisamente na rua Siqueira Campos, bem ao lado da subida da Ladeira dos Tabajaras. Naquela época era um ponto com a fama não muito boa, ponto de viciados, “aviões de drogas”, mas também pessoas comuns, transeuntes que compram cigarros, outros que param para pegar o ônibus e aqueles que só estão ali para conversar, namorar e beber. Ao saírem do bar entraram no breu silencioso da rua, na companhia de sombras, gatos e a sensação repentina de uma vontade louca de urinar. 

Ao longe uma viatura da polícia vinha subindo a rua; ao aproximar-se, a sirene dá um baixo e curto toque, se acende o giroflex e tão breve se apaga; os olhares se cruzaram e Romero dá de ombros abrindo um sutil sorriso de canto de boca ao reparar o som advindo da janela do primeiro andar de um prédio próximo: alguém gemendo em um possível ato sexual. O inevitável acabou acontecendo: foram parados. As portas se abrem ligeiras e saem dois policiais do carro: aquela típica dura na madrugada Carioca. Romero era o único branco, estava com sua roupa de passeio, quase um uniforme: bermuda de surfista, camisa da Hering lisa, tênis, meia branca e um boné surrado e de marca aquecendo sua cabeça; estava tranquilo, pois nada tinha nos bolsos, apenas sua carteira, um maço com dois caretas (cigarros) e um isqueiro da marca Zippo (presente dado por sua namorada atual). Romero soltou um ar com a boca e passou a mão em frente em um movimento estilo karatê, cerrou os olhos e “touché”! Estava com um bafo terrível, fétido, de uma cachaça barata, amarelada, que fora vendida como se fosse uma pinga legítima mineira. Na hora deu-lhe uma ligeira tonteira e acabou tudo misturado no pensamento, acabou por dar um arroto seco da cerveja que fermentava em seu estômago. O policial mais alto e meio troglodita, que tão logo foi obviamente rotulado mentalmente pelos três amigos de “mau-mau”, falou em voz firme, incisiva e deveras alta:

- Levanta o braço... cadê o fragrante? É melhor mostrar – disse olhando os outros dois de soslaio –, pois se eu achar vai ser pior!

O outro policial descruza os braços, dá um passo ligeiro à frente e intervém de forma amistosa: 

- Antes de tudo quero ver o respeito, todo mundo pianinho!

– O policial aproveita a deixa do silêncio e conclui:

- Levantem a camisa, abaixem a cabeça, documentos nas mãos e podem abaixar também os braços.

Romero e os amigos tiraram as carteiras do bolso e as estenderam em suas palmas dando total sinal de submissão. Visivelmente Romero parecia um ser invisível, pois foi o único a não sofrer quaisquer pressões físicas e psicológicas. Ao contrário de Grilo e Isaac, não foi esculachado verbalmente e sequer teve sua carteira aberta; foi tratado com desdém enquanto observava todo o abuso nos tapas no peito, intimidação na fala, dedo na ponta dos narizes e até um empurrão em Grilo, que o jogou contra o muro e o pé em uma poça de água parada. Do jeito que Romero colocou sua carteira na palma da mão ela ficou; sequer foi vista ou aberta até o fim de todo o imbróglio. Enquanto assistia com o olhar soturno aos documentos dos amigos sendo iluminados pela lanterna dos guardas, e alguns vinténs e pertences caindo ao chão, sua mão continuava estendida e sem qualquer ingerência. De repente veio um empurrão circular ao Isaac; ele vai meio trêmulo em direção ao muro, onde é colocado de costas e tem as pernas abertas pelo coturno do guarda. O outro policial, batizado mentalmente por todos como “bom-bom”, guarda a arma, vai até ele e o examina meticulosamente dos pés à cabeça... num movimento violento o policial retira-lhe as chaves do bolso, alguns papeis com poemas escritos e um pacote de balas, sem achar enfim nada aparentemente ilegal. Agora ele dá um toque com a sola da bota na junta da perna, com a intenção de fazê-lo se ajoelhar, – mas não consegue –, então ele empurra seu ombro para baixo de forma grosseira até os joelhos jazerem no chão, bem ao lado de um despacho, e diz:

- Fique quietinho! Está querendo ganhar porrada?!

A luz do poste era ínfima, parecendo o cenário de um quadro de Caravaggio. Não havia movimento algum nos arredores, até os gemidos haviam cessados, era uma noite propícia para um crime de preconceito ou ódio; mas não ali, não naquela noite, não ali na zona sul e em Copacabana. Com certeza aconteceria em outro ponto da cidade. O bar já havia fechado suas portas, a água com a espuma cinza escura do sabão da lavagem do chão já escorria por debaixo da porta, atravessando a calçada e escorrendo correndo ligeira rua abaixo pelo meio-fio. E ali, os três, começaram a ouvir o sermão dos dois policiais:

- Sabe que odeio malandro? – Disse exaltado o policial mais alto e inquieto –; odeio gente que quer tirar onda com a cara de uma autoridade – e, em seguida, lançou um tapa na cara de Grilo que estalou ecoando pela rua, dando a impressão que ficaria aprisionado naquela rua escura e assombraria aos passantes por anos e anos. Em seguida o policial foi mais preciso:

- E esse relógio ai? – Disse com o dedo em riste e a voz meio pipocada; olhou rapidamente para Romero mas retornou o olhar ao Grilo – roubou aonde? – Agora com olhar de determinado e já com as duas mãos na cintura (uma flertando com a arma que se encontrava no coldre).

- Não roubei – disse Grilo em tom cauteloso que beirava um sussurro –, foi presente de Natal que ganhei dos meus pais.

Os policias devolveram os pertences e após alguns minutos que pareciam eternidades todos foram liberados.

Assim que a viatura em alta velocidade deixou a rua, um grupo de cinco jovens bem arrumados e com uma garrafa de uísque importada, despontou descendo a ladeira transversal, vindo de alguma festa. Um deles ainda segurava um cigarro de maconha, aceso, e olhou com certo desprezo para os três. Os outros riam e falavam ao mesmo tempo e tão alto que acabaram abafando o soluçar do choro que Grilo não conteve.


André Anlub

11 de dezembro de 2023

surf girl

 

- Que fatalidade: ao fechar seu zíper, Zappa perdeu seu Zippo; ficou com o fumo, mas sem consumo, sem fogo, sem fósforos; ficou famélico e – quem diria – com fisionomia de abstêmio, perfume de absinto e sorriso de feijão-fradinho... Mas com uma caixa cheia de barrinhas de cereal sabor chocolate com avelã. 


- Rótulos são para todos que gostam; conteúdo é só para quem o procure e mereça.


Imponência


De uma forma deveras palpável

A grafia renasce no arcabouço 

Vindo de uma sensação mutável

Tornando-se finalizada ante o esboço.


As letras jamais envelhecidas

Amareladas com rigidez perene

Órfãs sem jamais terem nascidas

Lapidadas pela sutileza do cerne.


Apólogo nas mentes funcionais

Decreto soberbo dos irracionais

É boa imprecação em todas as formas.


Sem acatamento diante da alusão

Dona de si perante comunhão

Jamais dará ouvidos às normas.


Dueto CLXXV


Cheia de fases e quieta, como a lua, a coruja viúva somente observa.

Seu longo histórico de observações leva a pensar. A coruja viúva adora ser levada a pensar.

Observa – pensa, pensa – observa... poderia (caso quisesse) ficar presa nisso e nessa até o sol raiar.

Mas até as corujas sentem fome. Encosta a filosofia num canto do galho e alça voo silenciosamente.

Voa rente e alerta, silenciosa e esperta, e caça o coelho que sai de seu abrigo, pois tinha hábito notívago.

Coelho perde a vida para que coruja continue vivendo. De volta a seu posto de reflexão, entrega-se a meditar.

Entre um som e outro, imersa na penumbra, tenta tirar o cochilo... Em vão! E vão em diversa direção seus olhos gigantes que não relaxam. Em suma: suma noite para que a coruja durma.

Vá embora agora isso que decora a mente com reflexos complexos. Quero descansar! Mas a imagem do coelho apavorado não lhe sai da cabeça.

Parodiando Suassuna: matar coelho dá um azar danado. Sobretudo para o coelho. 

A caçadora digere sua caça e os azares da vida, que são a sorte de quem os provocou. Digestão pesada.

A lua vai dando seu adeus para a noite grávida de oito meses que em breve, muito breve, dará a luz.

A coruja viúva boceja, arrota, ajeita-se no galho-casa, deixa o sono pesar nos olhos e, absolutamente sem querer, compõe um adeus-epitáfio ao coelho mártir.


Rogerio Camargo e André Anlub

1 de dezembro de 2023

Furiosa (trailer)

 



Das Loucuras (Nossa Holanda)


Fazer o bem sem se gabar a cem,

O bilhete diz absolutamente o que mereço.

Diz tudo e muito mais um pouco...

Está explicito ali, para olhos que veem.


Infiltrando-se por dentro do corpo oco

E por fora mantendo o brilho extenso.

A capilaridade social impede o fundo do poço,

Ainda que possam empurrar o sol para dentro.


Há as mais puras inércias...

Nos países baixos.

Há a maior mentira discreta...

Pra não fica por baixo.


Mais um adendo: 

O corpo não se sustenta

Não há omelete sem ovo

Nem borda sem centro...

Mas há quem inexista e aguente.  


Nossa Holanda arquitetada

Também tem ciclovia que brilha

Em artes de Van Gogh inspirada

Numa folia de vaga-lumes em trilha.


Vejo-a naquela pantomima...

Todos vão com tudo na encenação eloquente.

Se não há fé, vá sem fé mesmo...

Pega-se um ônibus, dobra-se uma esquina,

Mas com um pouquito de crença

A vida, com ou sem desavença,

Fica mais a contento.


Vejo-a bela e sorridente,

Dentro de nossa antípoda.

Não é preciso falar ao meu ouvido,

Eu já nasci entendendo.


Sussurre ao abismo,

Sem eco, sem ego, sem medo.


Século de nada, de sangue, de ouro,

Rasga-se o couro...

O mestre dos sonhos e seus tesouros.

Tudo para se gabar com os louros.


Nuvens cinza se dispersam com o vento,

E nesse lamento as lágrimas secam.

De um lado da bifurcação o mar e a lua que refrescam;

O que fica para trás é só o fim do começo.


Bem visíveis às pegadas

Na areia fria da necrópole,

E a semântica dessa semana

É branda e já está sanada.


Estacionada na nossa Holanda,

Nossa enrolação nos enrole

Com moinhos de vento,

Ventania inventada,

Eu e você, de mãos dadas,

Constituindo nova prole.


André Anlub

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.